Ambipar tem dívida de R$ 11 bi suspensa por injunção judicial
26
set
Israel Moura Economia 0 Comentários

Medida cautelar e seus efeitos imediatos

Na última quinta‑feira, o 3º Tribunal Empresarial do Rio de Janeiro concedeu uma Ambipar uma injunção que impede que credores cobrem ou executem garantias contra a empresa por 30 dias, com possibilidade de extensão por mais 30. A ordem também bloqueia qualquer pagamento de dívida durante esse período, inclusive o vencimento de US$ 119 milhões ao Santander, programado para as 14h do mesmo dia.

O juiz Leonardo de Castro Gomes designou quatro administradores judiciais qualificados para supervisionar a suspensão e garantir que os ativos da companhia sejam preservados. Essa medida funciona como um “resgate” preliminar, permitindo que a empresa busque uma solução negociada antes que as cláusulas de inadimplência em cadeia (cross‑default) sejam acionadas.

Origens da crise e os riscos de um colapso

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A Ambipar acumulou dívidas de aproximadamente R$ 11 bilhões, um volume que inclui empréstimos bancários, debêntures e títulos em dólares. A maior parte desse passivo se formou após uma estratégia agressiva de fusões e aquisições: entre 2020 e 2022 a empresa fechou 42 compras, impulsionando seu crescimento mas também seu endividamento.

  • 2020‑2021: aquisição de 15 empresas de gestão de resíduos e serviços de limpeza industrial.
  • 2021‑2022: compra de 27 companhias de consultoria ambiental e tecnologia de monitoramento.
  • 2022: expansão internacional via filial Ambipar Lux, responsável por operações de green bonds.

Com a alta dos juros no Brasil, o custo do capital subiu e a empresa começou a sentir a pressão. As cláusulas de cross‑default, previstas em vários contratos, preveem que um atraso pode disparar o vencimento imediato de toda a dívida, elevando o valor a ser pago para mais de R$ 10 bilhões.

Além do risco de acionamento das cláusulas, surgiram suspeitas internas sobre um contrato de green bonds de US$ 35 milhões firmado com o Deutsche Bank. Segundo fontes, um executivo ex‑funcionário teria assinado uma emenda que impôs condições onerosas à filial Ambipar Lux, sem a devida garantia. A operação, supostamente destinada a financiar projetos sustentáveis, acabou comprometendo ainda mais o balanço devido à variação cambial e à depreciação dos títulos.

Os títulos em dólares da empresa reagiram à notícia: o preço caiu mais 21 centavos em um dia, chegando a 15 centavos por dólar, segundo a plataforma de negociação Trace Pricing. Esse recuo reflete o medo do mercado de que a empresa precise de uma reestruturação de dívida ou, em último caso, de um processo formal de recuperação judicial.

Em comunicado, a Ambipar afirmou que a injunção tem como objetivo garantir a continuidade das atividades do Grupo e proteger seus ativos enquanto negocia com credores uma alternativa viável. A empresa enfatizou que não há intenção de interromper serviços essenciais, como o monitoramento de emergências ambientais.

Especialistas apontam que, apesar da medida ganhar tempo, o próximo passo lógico será a solicitação de recuperação judicial completa, caso as negociações não resultem em um acordo que satisfaça os credores. O cenário coloca investidores, fornecedores e clientes em alerta, e pode reverberar no mercado de crédito corporativo brasileiro, que já demonstra sensibilidade a riscos de endividamento excessivo.