Alta altitude: por que times brasileiros tropeçam no LDU de Quito
27
set
Israel Moura Esportes 0 Comentários

Altitudes extremas e o desafio brasileiro

A alta altitude de Quito, onde fica o Estádio Rodrigo Paz Delgado, já é motivo de preocupação para quem mora ao nível do mar. Situado a quase 2.850 metros acima do nível do oceano, o local tira o ar das pernas e dos pulmões dos jogadores que chegam viajando de ônibus ou avião sem aclimatação prévia. Essa condição já tirou o melhor de grandes nomes do futebol brasileiro, de Neymar a Gabriel Jesus, que precisaram de cilindros de oxigênio após partidas em La Paz, na Bolívia.

No contexto da Copa Libertadores, a altitude virou quase um trunfo técnico para o LDU de Quito. Em 2024, o clube equatoriano bateu o Botafogo nas duas pernas da fase de grupos, revertendo a vantagem de 1 x 0 conquistada na partida de ida. O retorno acabou 2 x 0 para o LDU, e o brasileiro saiu eliminado por 2 x 1 no placar agregado. A diferença, segundo analistas, foi o desgaste físico dos jogadores nos últimos minutos – quando a bola costuma ficar mais pesada e as corridas de recuperação ficam mais lentas.

Táticas, impactos psicológicos e o fator calendário

Táticas, impactos psicológicos e o fator calendário

O LDU aprendeu, ao longo de décadas de competições continentais, a explorar a altitude com um plano de jogo bem definido: pressionar nas primeiras 10‑15 minutos, buscar um gol rápido e, depois, fechar a equipe em blocos compactos. Assim, eles garantem que o adversário já chegue ao fim da partida cansado e com a moral baixa. Essa estratégia tem funcionado contra o Flamengo, que chegou a La Paz para enfrentar o Bolívar ainda após 46 partidas disputadas no ano, com lesões que deixaram Gabigol e Pedro em dúvida para o duelo.

Além do aspecto físico, há o peso mental. Jogadores brasileiros chegam ao estádio já sabendo das narrativas de derrotas anteriores. Essa ansiedade pode fazer com que o time adote um ritmo ainda mais cauteloso, entregando a iniciativa ao adversário. Por isso, treinadores como Tite costumam falar da necessidade de ajustes táticos específicos para enfrentar essas condições, mas a realidade é que o calendário apertado da Libertadores deixa pouco espaço para preparação física e psicológica.

Outros clubes que se depararam com a altitude incluem o Grêmio, que sofreu contra The Strongest, da Bolívia, e o Palmeiras, que teve dificuldades ao enfrentar o Bolívar em 2022. Em todos os casos, a falta de oxigênio levou a um aumento de erros nos passes, chute impreciso e menor eficácia nos lançamentos longos. O risco de lesões também sobe, pois o coração trabalha mais intensamente para bombear sangue em regiões mais raras.

Os especialistas recomendam que as equipes brasileiras façam treinos em ambientes simulados, como câmaras hiperbáricas, ou programem períodos de aclimatação de pelo menos 48 horas antes do jogo. Ainda assim, a logística de deslocamento, viagens longas e a necessidade de manter a forma física são obstáculos difíceis de superar.

Para o futuro da competição, há quem discuta a possibilidade de mudar regras de classificação ou até criar um banco de reservas de jogadores acostumados a altitude, mas, até lá, a melhor aposta dos times brasileiros é adaptar a preparação física, repensar a estratégia de início de partida e, principalmente, entrar em campo com a mentalidade de que cada minuto pode ser decisivo quando o ar é fino.